sábado, 4 de setembro de 2021

ABCDiário • letra E

Era a quarta vez que me dirigia ao Gabinete de Apoio ao Consumidor, na estação de São Bento, só para me dizerem o mesmo que das outras vezes: "Não temos nada com essa descrição nos perdidos-e-achados. Volte cá daqui a dois ou três dias..." E lá me vinha eu embora, derrotado, a sentir-me completamente despido. Mas não regressaria lá uma quinta vez – por mais triste que estivesse, pensava agora na oportunidade que tinha pela frente: voltar a adquirir todo o material de desenho que tinha no estojo-vermelho-com-uma-roda-dentada-de-lado que me tinha acompanhado desde o liceu e que tinha deixado ficar numa qualquer carruagem...


Letra E • Estojo 

Se o meu estojo falasse, teria muitas queixas para fazer:

  • Para que é a borracha* se nunca a usas?
  • Porque é que o fecho está pelas costuras se usas sempre a mesma caneta?
  • De que serve um estojo se depois pões tudo ao calha dentro da mochila?
  • Se tens um... Olha lá, ó estojo... Não queres parar de me envergonhar!?
A verdade é que, por mais que tentemos aproximar a nossa prática do método científico (v. letra D), nunca sabemos o que nos espera lá fora, pelo que é mais que normal andar com tudo e mais alguma coisa à trela. Por exemplo, nos últimos tempos, tenho andado com uma mochila para máquinas fotográficas que tem o tamanho perfeito para um par de cadernos A5, um estojo, uma lata cheia de marcadores, uma caixa de aguarelas, uma garrafa de água, um pacote de bolachas, uma maçã Granny Smith e ainda tem bolsos laterais para lenços de papel e pastilhas elásticas. Mas muitas são as vezes em que faço uma pequena seleção de material e ando com tudo no bolso...

O que é que a minha demanda de reaquisição acabou por me trazer?
Cá têm uma lista (em nada estanque), que vai flutuando com o tempo:
  • Lápis de grafite (4H e B)
  • Lápis de grafite (4B), modelo Jumbo
  • Barra de grafite pura (6B)
  • Borracha de precisão, Tombow
  • Borracha em caixa de madeira (lápis) com vassourinha
  • Borracha branca (PVC-free)
  • Fita corretora [1]
  • Pincel branco, Posca
  • Lápis branco, Viarco [2]
  • Bisturi ou X-acto [3]
  • Lápis de duas cores - modelo Olímpico, Viarco [4]
  • Lápis de animação COL-ERASE, Prismacolor [5]
  • Esferográfica azul, BIC
  • Caneta preta PITT (XS, S, F, M e B), Faber-Castell [6]
  • Caneta sépia PITT (F e M), Faber-Castell
  • Caneta sépia, PILOT
  • Caneta sanguínea PITT (S e F), Faber-Castell
  • Pincel de reservatório, Pentel [7]
  • Lata de grafite aguarelável ArtGraf, Viarco
  • Marcadores coloridos PITT (B), Faber-Castell [8]
  • Marcadores de aguarela, Winsor & Newton [9]
1. Quanto fui assistir a uma aula de esgrima, achei por bem levar corretor comigo para ser mais rápido cobrir zonas brancas, e depois lá acabou por ir ficando dentro do estojo. Mais tarde, passei a usar canetas Posca com bico de pincel para maior controlo.

Aula de esgrima, Coimbra
Pincel branco, POSCA

2. Desde que experimentei desenhar em papel preto que ando sempre com um lápis branco no estojo.

Estátua de Pedro Álvares Cabral, Santarém

3. Prefiro usar um X-acto por vez duma afia** porque, desta forma, posso optar por aguçar o lápis como se fosse um cinzel para obter linhas ora grossas ora finas.

4. Uso muito este lápis da Viarco para capturar pessoas sem perder muito tempo: para além de ser azul e vermelho, tem um bico mais grosso que o normal e, quando usado em conjugação com lápis branco sobre papel colorido, resulta num efeito que me agrada bastante.

Praça do Mercado, Aveiro

5. Existem lápis de animação de várias cores (sendo as mais comuns o azul, o vermelho e o verde), mas podem ser apagados normalmente com borracha, fazendo deles o material ideal para esboçar.

6. Desenhar com canetas de ponta fina permite utilizar várias técnicas, sendo o uso da trama para criar efeitos de sombra e textura a mais usual. Além disso, gosto de utilizar canetas de diferentes espessuras para assinalar diferenças na profundidade, por exemplo. Outra forma de criar profundidade é utilizar tons sépia para elementos próximos e sanguínea para elementos mais afastados. Além disso, a temperatura do traço acastanhado, que nos remete para a fotografia antiga, traz outra dimensão ao desenho.

Castelo de São Jorge, Lisboa

7. Não sou muito de usar aguarela mas, quando o faço, acabo sempre por misturar com outra técnica: seja com canetas de ponta fina para o contorno, seja com grafite aguarelável (em lápis ou lata). O advento dos pincéis de reservatório veio ajudar imenso ao praticante de aguarela de rua mas eu acabo por preferir enchê-los com uma mistura de tinta da china e água, em partes iguais – perfeito para sombrear desenhos de forma rápida e gestual.

Casario, Aveiro

8. Ainda assim, a minha escolha de material quase sempre recai nos marcadores PITT da Faber-Castell: a gama de cores agrada-me bastante e permite-me, de forma rápida, colorir e desenhar ao mesmo tempo! Só tenho pena que não comercializem em Portugal todas as cores do formato "big brush" mas também não havia estojo que aguentasse...

Cine-Teatro Messias, Mealhada

9. Finalmente, para quem goste de técnicas mistas e queira experimenta marcadores com tinta aguarelável, têm ainda as Water Colour Marker, da Winsor & Newton, com cores vibrantes e duas pontas (bico fino e brush, maior e mais flexível que o das PITT). Aconselho o seguinte conjunto: Terra de sombra - 554, Carmesim-de-Alizarina - 003, Amarelo de Goma-Guta - 266, Azul Turquesa - 654 (ou Azul da Prússia - 541) e Violeta - 231.

Como vês, caro estojo, transportas em ti um verdadeiro tesouro e não te quero voltar a perder por nada deste mundo! Por isso, não tens razão de queixa – vê mas é se te calas!***


* Termo para safa utilizado no resto do país. ** Afiadeira (abrev.); termo para aguça - ainda há quem lhe chame apara-lápis e apontador. Tudo gente esquisita! *** Curiosidade: a minha avó costumava usar "estojo" como um insulto. Muitas vezes a ouvi berrar: "Caaala-te, estojo!" – não me perguntem porquê. :S

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