sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O silêncio de desenhar

Rua de Santa Catarina, no Porto, na manhã do 4º Encontro dos USKP Norte.

Começou por ser um desenho muito exigente para mim por ter uma grande variedade de elementos de arquitectura a integrar na perspectiva. Optei pela simplicidade de representação desses elementos e com alguma concentração vi como poderiam ser tornados mais leves... ao andarmos na rua também não estamos a ver em detalhe tudo, o olhar cria referências simplificadas do que vê à passagem pelas coisas. A simplificação é muito mais próxima da nossa visão dinâmica do mundo.


Desenho a canetas japonesas em diário gráfico

  
Ao desenhar as pessoas deliciei-me com o movimento constante em várias direcções e as várias distâncias a que se encontravam. Nos momentos em que se olha centrado apenas em captar a relação de tamanho e posição entre os vários elementos o olhar faz um tipo de leitura em que coloca tudo como se estivesse no mesmo plano. E aí as pessoas apresentavam-se ao meu olhar de uma forma bastante cómica... as que do lado esquerdo caminhavam mais ao fundo na rua vindo na minha direcção apareciam debaixo do braço esquerdo do personagem que está em primeiro plano (que era o Tiago Cruz) como se fossem pequenos personagens de uma história encantada, que existiam tendo aquele tamanho! Claro que a ilusão durava um breve momento, mas registei-a como algo interessante.
Acho realmente fascinante o que se passa entre os nossos olhos e o nosso cérebro, como traduzimos o que vemos construindo a nossa noção de real!

É também curioso como entramos num silêncio só nosso quando desenhamos no meio do movimento da cidade. Estar em grupo ajuda a proteger esse espaço de silêncio.
      

4 comentários:

  1. Gosto bastante deste desenho. Era capaz de dizer que se trata de um video tal a sensação de movimento que ele transmite...

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    1. Armando, se sentes isso deves imaginar o gozo que me deu ao desenhá-lo!!!... e tu estavas ali mais para o lado direito fazendo parte desse movimento... só não há tempo para desenhar tudo... Fico grata por partilhares o que viste pois neste trabalho de artista quantas vezes nos perguntamos se mais alguém verá como nós!... :-D

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  2. A parte superior dos edifícios ia muito bem lançada... Mas impôs-se o silêncio. Compreendo o que a Isabel diz sobre a dificuldade de seleccionar o que deve e não deve entrar no desenho. Pormenores a mais matam-no...

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    1. Tens razão, Miú, há aspectos do desenho que não estão inteiramente resolvidos, como é o caso da relação entre as várias figuras, em termos de profundidade. Eu depois ainda reforcei o primeiro plano e ao reforçar essas figuras atenua-se a dispersão, mas apresentei esta fase do desenho porque gosto da leveza das figuras, mesmo que isso seja à custa de uma perda de profundidade. Obrigada por comentares.

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